Vazio


Intacta diante do espelho
Desconheço o fantasma ali refletido
De um corpo cintilante se vê o vazio
Dos olhos dela se entende a imensidão do horizonte
Uma estátua viva;
Que não ama, que não sente.

O sentimento inexistente só inflama tuas feridas
Causa tal moléstia e a mata vagarosamente
Quando não há o que sentir e não se tem o que escrever
As palavras se empregam por si só
Em um papel lágrimas se registram...
Pois o sentir daquela aura
Se decompôs em fagulhas de fogo

Atravessa as paredes sem sequer ter um motivo
Não sabe aonde vai
E nem sabe se quer ir
Para teus males já não há antídoto
Seu propósito abrange todo este tormento
E se choras é por estar no furor deste redomoinho

Então ela se deita
Nesta noite sem lua e sem ruídos
Onde os silêncios se entrelaçam
Tecendo no céu a canção dos ventos

O travesseiro encharcado e confuso
Ele que suportaras todas as melancolias
Ele que guardara todos os segredos,
Ele que absorvia todos os gritos
Desta vez o coitado se mitiga
Não entende a origem de toda aquela tensão.

Os olhos delas fecham-se levemente
Em teus sonhos perturbada também foi
Fantasias malignas que enfeitam o irreal
Que um dia realidade poderá se tornar

Importuno final até a ultima gota a espremeu
Uma respiração ofegante foi o que restou
Se contorcia aos segundos querendo acordar
E um berro na garganta estava entalado

Quando o estralo de um beijo chega em teu rosto
Veio não sabe de onde
Veio e não sabe de quem
Só sabe que a libertou
Das grades angustiosas que a ela pertencia!